quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A Exclusão da Evolução Humana: Artes, Filosofia e Sociologia para Que?


Profª Ma. em Educação Leticia Brito
(Alguém sem notório saber, mas com muita dedicação aos estudos de leis educacionais)

OBS: Ao longo do texto podem ser encontrados hiperlinks que direcionam o leitor para pequenos textos, vídeos e livros que tratam sobre os termos apresentados.

Outro dia vieram me perguntar porque tanto descontentamento pela retirada dessas matérias da grade curricular do Ensino Médio afinal, hoje em dia a área de conhecimento que mais cresce são as ligadas a tecnologias e ciências exatas, não as humanidades, logo não é normal que essas disciplinas não sejam prioridades educacionais?
Bom, para responder corretamente a essa pergunta os convido a uma viagem no tempo, voltemos ao tempo para analisar a figura do Homo Sapiens e responder a seguinte questão: O que nos separa dos demais animais existentes no nosso planeta? Nossa capacidade de raciocínio. De fato, nossa capacidade de raciocinar, de observar o mundo tentando compreender o que nos parecia estranho, nossa habilidade de criar elementos que facilitavam a vida e mesmo o desenvolvimento de técnicas de plantio e a criação de comunidades primitivas, ao invés de continuarmos como nômades, nos conferiu sempre status de raça superior localizada no topo da cadeia alimentar.
Contudo, voltemos ao passado e me respondam a seguinte questão: Qual foi a primeira expressão que fez com que o homem primitivo caminha-se rumo ao seu desenvolvimento intelectual, ou melhor dizendo, qual foi a primeira preocupação deste homem? A resposta certa é a necessidade de transmitir seus conhecimentos, mas como se comunicar quando a fala ainda não existia? Por meio da arte.
A arte rupestre (arte primitiva), logo não é exagero algum dizer que a arte é o que nos difere dos demais animais e que nos categoriza como humanos. Se levarmos em conta que as pinturas nas cavernas antecederam o desenvolvimento da fala e até mesmo invenção dos primeiros alfabetos, não há sentido em pensar em currículo escolar que não possua preocupação no ensino das artes para o pleno desenvolvimento intelectual do ser humano.
Uma característica marcante na nossa espécie é a busca por conhecimento, sendo assim, com o passar do tempo e a evolução da humanidade o homem que atribuía a Deuses todos os acontecimentos naturais que não sabia explicar, começou a perceber que alguns fenômenos como as estações, dia e noite, entre outros, sempre se repetiam, sendo assim o homem moderno começou a sua busca por respostas sobre a vida o universo e tudo mais. Surgia assim a Filosofia e com ela muitas conquistas e desenvolvimento de um pensar critico, foram os filósofos antigos que inventaram conceitos que são transmitidos até hoje como astronomia, cálculos, leis, a politica, até mesmo a noção  que temos do que seria democracia foi retirada da filosofia, logo não podemos tomar a filosofia por uma matéria menos importante, visto que todas as áreas do conhecimento tiveram como origem essa "disciplina inferior".
Com o desenvolvimento de sociedades complexas, surge a necessidade de tentar entender como o funcionamento da mesma pode influenciar nossas vidas, surgia assim a Sociologia que procurava  estudar a sociedade com os mesmos critérios científicos das demais áreas do conhecimento.
Toda vez que pensamos em sociologia devemos ter a clareza de saber que o homem que não consegue analisar o meio em que vive  com critério cientifico, está fadado ao retrocesso. Imaginar que uma pessoa possa se desenvolver de forma critica para ser "útil a sociedade" sem ao menos compreender qual é o seu papel dentro dá mesma é o mesmo que imaginar alguém aceitando uma vaga de trabalho sem a exigência de um salário.
Tendo feito essas considerações cabe colocar a seguinte questão: Por que retirar Artes, Filosofia e Sociologia da grade curricular do ensino médio, ministrando apenas conceitos da mesma no primeiro ano do ensino médio e depois apenas se o aluno demonstrar interesse em estudar as humanidades?
De fato, o conceito do que seria ideologia surgiu dentro dos estudos da sociedade, contudo o que cabe a mim, como estudiosa de politicas educacionais é o seguinte alerta: Não há currículo sem ideologia uma vez que a finalidade deste é preparar o homem ideal para o tipo de sociedade atual.
A pergunta que cabe aqui sempre será uma apenas, que tipo de homem a Reforma do Ensino Médio procura preparar para a sociedade? Estariamos fadados ao retrocesso de uma multidão de especialistas em um único grão de areia?
Que possamos viver em meio ao lindo e ideológico mundo perfeito, sem barreiras, interativo e globalizado e não que façamos com que os nossos jovens que a muito já estão confusos pelo excesso de informações que nunca se aprofundam, ao retrocesso do homem de Chapplin no seu celebre filme Tempos Modernos.

domingo, 25 de setembro de 2016

ANALISE SOBRE A REFORMA DO ENSINO MÉDIO

Profº Ma. em Educação Leticia Brito
(Alguém sem notório saber, mas com muita dedicação aos estudos de leis educacionais)

OBS: Para leitura do conteúdo das imagens, basta clicar sobre as mesmas. 

Recentemente tenho lido muito sobre a aprovação da Reforma do Ensino Médio assinada pelo então “Presidente” Michel Temer no ultimo dia 22/09/16 e publicada no Diário Oficial da União em 23/09/16. 
A primeira reação das pessoas foi de revolta diante da urgência e incoerência de algumas ações que a medida trás, outros apontam o dedo dizendo que essa não é uma medida realizada por esse governo, pois já vinha sendo discutida pela então Presidenta Dilma Rouseff durante o seu governo. 
Mas afinal de contas, quem criou essa medida e como a mesma pode afetar drasticamente a educação de nossos jovens?

Desde 2007, com a criação pelo então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva da Lei nº 11.494 de 20 de junho de 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), a discussão a respeito de mudanças necessárias para o Ensino Médio já eram discutidas, bem como a necessidade do estabelecimento de um piso salarial para o profissional docente. Contudo, cabe pontuar que mesmo que o Fundeb tenha trago as discussões sobre essa reforma, a verdade é que a Reforma do Ensino Médio nunca vai poder ser apontada como o erro do governo que caiu, basta ser um pouco critico e analisar as revogações e emendas de lei pelas quais as Leis de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) tem passado sem que ninguém se revolte, sem que ninguém aponte, medidas essas que representam com clareza a briga por poder debaixo dos nossos narizes enquanto ficamos brincando de cada um no seu quadrado, esquerdopatas ou coxinhas.
Por exemplo, vamos analisar as alterações feitas no Art. 36, da LDB que versa sobre o currículo obrigatório para o ensino médio:


 Fonte:www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm acesso em: 26/09/2016 às 01h10

Como podemos ver no quadro acima, no ano de 2008, quando o ensino de Filosofia e Sociologia tornavam-se obrigatórios na grade curricular do ensino médio, outras medidas eram revogadas, tais como a formação profissional dentro do ensino médio. Pensando em ensino técnico foram criadas leis próprias, dentro da LDB, que tratavam especialmente dessa modalidade de educação. Talvez não exista documento que simbolize mais a briga por poder  e os desentendimentos entre alianças políticas incoerentes como as emendas da LDB, isso mostra o quanto a crise na qual não podemos falar já é matéria antiga antes mesmo de se pensar em pedidos de Impeachment.

Desde 2006 muitas emendas estão sendo realizadas nas Leis de Diretrizes e Bases, basta acessar o documento e analisar todas as mudanças e discussões que, infelizmente, só são discutidas em gabinetes e chegam , nem sempre de maneira positiva, até os professores.
Voltando as discussões sobre a Medida Provisória 746/2016, vejamos como a mesma nos foi apresentada através de publicação do Diário Oficial da União:



Fonte:portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=48601-mp-746-ensino-medio-link-pdf&category_slug=setembro-2016-pdf&Itemid=30192 acesso em 26/09/2016 às 01h35

A pergunta que não quer calar é, como essa medida provisória pode ser atribuída como continuação de um governo deposto, sendo que a lei foi apresentada revogando tanto as emendas anteriormente realizada na LDB, como na lei que versa sobre o Fundeb? O que podemos esperar com tais reformas que não realizou sequer uma consulta popular?
Na realidade uma consulta foi realizada e, como podemos ver, segundo dados retirados do site do senado onde podemos acompanhar todas as votações em tramite, essa foi a resposta a opinião da população:



Fonte:www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/126992 acesso em; 26/09/2016 às 1h52

Com a medida assinada no dia 22/09 e tendo a enquete com participação popular encerrada no dia 25/09, como podemos ver na imagem acima, essa realmente foi uma medida de emergência de quem buscava trabalhar conforme seus interesses e não respeitando os anseios dos docentes e população geral.

Não é segredo a ninguém que esse governo que ai está não agrada a população, é um dos mais ilegitimos desde 1964, tanto que vem na derrubando todo e qualquer avanço realizado desde então, sendo que um dos grande avanços pós fim da ditadura militar foi a elaboração das Leis de Diretrizes e Bases da Educação. 
Essa reforma, como ai esta, trás boas ideias para educação? Sim, seria um sonho conseguir funcionar como as High School americanas, onde no primeiro ano o aluno cursa uma grade comum a todos, para nos anos posteriores escolher um currículo que melhor se adapte aos seus anseios futuros e se assemelhe a área do conhecimento que o aluno, enquanto futuro universitário pretende ingressar, onde o aluno possa, em tempo integral se dedicar aos estudos. Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte, como proporcionar esse tipo de ensino quando não se há verba nem para a comida dos alunos ou mesmo para reformas básicas que a escola venha necessitar? 
Qual é o papel do aluno pobre dentro dessa escola, se dificilmente um filho de trabalhador pode se dar ao luxo de apenas estudar? A resposta já tenha sido dada por nosso Excelentissimo Presidente da Republica: “Não fale em crise, trabalhe”

Links de Pesquisa: Lei de Diretrizes e Bases Atualizada, Diário Oficial da União, decreto MP nº 746 de 2016, e Atividades Legislativas - Consulta Popular 

Obs: Para acessar os links de pesquisa, basta clicar nos hiperlinks acima.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Para Não Dizer que Eu Não Falei do Amanhã

Fonte: Google Imagens

Diante de toda essa politica de pão e circo que tanto tem nos afetado chegando ao grande dia onde a conquista democrática do afastamento da presidenta foi concluída me coloco a refletir sobre alguns fatos que são tão descaradamente ocultos por trás do discurso de ódio de alguns políticos que nos representam.
Sabe, quando a presidenta Dilma subiu a rampa do Palácio do Planalto em seu primeiro mandato sozinha, sem um primeiro senhor foi extremamente representativo para mim e milhares de mulheres que criam seus filhos sozinhas, foi a simbologia de que o futuro poderia sorrir até mesmo para quem ousa viver sozinha após o divórcio.  Mesmo com o lindo penteado de Marcela Temer, nada foi tão lindo quando ver uma mulher subindo a rampa e recebendo a faixa de presidente da Republica.
Se apoiava o governo Dilma? Posso dizer que votei nela no primeiro mandato com desconfiança, mas não me arrependi. No segundo mandato já fazia parte da esquerda que se opunha ao governo e suas alianças desastrosas com o PMDB, mas votei novamente nela e não me julguem, afinal, o outro candidato era o Aécio.
Mas tirando sua impopularidade por ela não fazer o tipo de politico que era mãe dos pobres e pai dos ricos, nessa politica populista ultrapassada que o povo tanto almeja ver, qual foi o grande crime de Dilma? Verdade, as pedaladas fiscais que ocorreram não somente nesse governo, mas realmente é uma prática terrível para um governo patriota.
Ao lembrar de como Dilma começou e de como ela vai terminar só vem a minha mente aquela velha história de homens colocando as mulheres em seu devido lugar que, definitivamente não é na politica, ao menos que você seja bela, recatada e do lar, claro.
Todas as pessoas em periferias, em grandes centros ou mesmo em locais públicos festejando a conclusão do processo com fogos e risos, desejo a vocês que amanhã possamos acordar em um paraíso verdejante onde poderemos brincar com leões e feras selvagens, pois Deus será o senhor que guiara a nossa Pátria.
Ironias a parte, toda essa historia me faz lembrar de um livro excelente intitulado Escute, Zé Ninguém de Wilhelm Reich, que narra o desespero do homem que, podendo ser grande, mergulhou na Era do Homem Comum, por medo de assumir sua liberdade e fazer suas próprias escolhas. Nesse livro o autor nos fala sobre como sempre escolhemos o lado mais sombrio para a resolução dos nossos problemas, dando um exemplo esquerdista, como entre a democracia de Lenin, preferiram a ditadura de Stalin. Sempre escolhemos a ditadura por causa desse medo que temos de admitir que somos responsáveis pelas nossas escolhas.
E o que tudo isso tem haver com nossa atual politica? Percebam, não é ruim querer mudanças, mas não podemos continuar fingindo que não somos responsáveis por nossas escolhas.
Sabe, uma menina apanhou de policiais... Deve ter merecido certamente....
As pessoas não são capazes de se solidarizar por uma mulher que foi agredida tamanha é a pulsão de morte que estamos a engrandecer nos nossos dias. 
-Bom mesmo eram os militares no poder para o país ir pra frente. Esse era o tempo bom.
Você, louco por militarismo me diga, o que aprendeu na escola sobre os pracinhas brasileiros? Não é estranho numa ditadura militar com a disciplina de educação moral e cívica, pouco sabermos da importância dos nossos soldados, do nosso exército?
No fundo todos sabem, quem levanta essa bandeira idolatra velhos patéticos que não tiveram a coragem necessária para ir a guerra e ficaram por aqui abusando de pessoas ingenuas como as que soltam fogos diante de uma hedionda politica de pão e circo.
E só para não dizer que eu não falei do amanhã, desejo profundamente que nossa politica e economia melhore como tantos tem pintado que acontecerá, porque mesmo diante de títulos também reconheço que sou uma Zé Ninguém e por ser assim tenho verdadeira vocação para ser feliz, uma vez que reconheço e aceito meus defeitos e sei que minhas escolhas pertencem a mim.
Obrigada Dilma por toda a representatividade que um dia mostrou para todas as mulheres, por sua coragem de não querer parecer bonita, por ter subido a rampa duas vezes segura e sozinha. Através de seus olhos muitas mulheres enxergaram uma nova possibilidade em suas vidas. E mesmo não concordando com você em todas as medidas e alianças, mesmo vendo o seu governo com um tanto de desconfiança não tenho vergonha de dizer: Podem nos derrubar, mas para cada mulher derrotada duas vão se levantar, pois a vida é luta e sempre estaremos dispostas a despertar.
Ao amanhã que ira despertar, boa sorte meu país, já que isso é  tudo o que posso desejar, visto que reforma politica acaba sendo um sonho distante que jamais irão desengavetar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O Aparelho Repressor e o Aparelho Ideológico de Estado

            Fonte de imagem: Questões de Concurso
 
OBS: Partes desses escritos compõem o primeiro capitulo da minha dissertação de mestrado, com direitos autorais reservados a  BRITO, Leticia dos Santos. O trabalho integral pode ser consultado na Biblioteca de teses e dissertação da Universidade Metodista de São Paulo

Quando o povo foi chamado para dar auxilio a burguesia para a efetivação da Revolução Francesa, não imaginava que os ideais tão proclamados de Liberdade, Igualdade e Fraternidade seriam tão distorcidos em sua efetivação. Subindo ao poder, tudo o que a burguesia ofereceu ao povo foi apenas a liberdade de compra e venda; a lógica agora, era a do capital. Para as massas que se transformaram em proletariado, o sonho de igualdade e fraternidade fora suprimido quando transformaram o trabalho em mercadoria.

Esta divisão do trabalho, que implica todas estas contradições e repousa por sua vez sobre a divisão natural do trabalho na família e sobre a divisão da sociedade em famílias isoladas e opostas, implica simultaneamente a repartição do trabalho e dos seus produtos, distribuição desigual tanto em qualidade como em quantidade; dá, portanto origem à propriedades cuja primeira forma, o seu germe, reside na família, onde a mulher e as crianças são escravas do homem. A escravatura, decerto ainda muito rudimentar e latente na família, é a primeira propriedade, que aqui já corresponde alias à disposição da força de trabalho de outrem. De resto, divisão do trabalho e propriedade privada são expressões idênticas – na primeira, enuncia-se relativamente à atividade o que na segunda se enuncia relativamente ao produto desta atividade. (ENGELS, MARX, 1933)

A lógica da repartição do trabalho e da propriedade entre diferentes setores sociais aumentava a distancia entre os homens, a exploração do homem pelo homem era aceita como uma necessidade para o desenvolvimento social. Fato que se agravou após a Revolução Industrial, que acabou enraizando a necessidade de transformar o trabalhador em mão-de-obra. Era a lógica da mais valia segundo a qual o homem vendia sua força de trabalho em troca de salário para adquirir bens de consumo.
Os aparelhos de estado funcionavam todos pela força repressiva. Os aparelhos de estado de Marx podiam ser divididos nas seguintes esferas: O governo, a administração, o exército, a policia, os tribunais, as prisões, entre outros. Os aparelhos de estado funcionando seguindo sempre a lógica do capital.
Contudo, levando em consideração todas as transformações do capitalismo durante a história, talvez a teoria sobre AIES (Aparelhos Ideológicos de Estado) que mais se aproxime de explicar a realidade atual seja a teoria apresentada por Louis Althusser (2007), famoso intelectual que seguia os princípios marxistas para a análise do estado e tentou completar o estudo sobre os aparelhos de estado apresentando a teoria dos aparelhos ideológicos de estado, que supunha que através da ideologia disseminada conseguia-se manter a ordem social vigente mesmo em tempos de crise.
Mas em que ponto os AIES diferem do aparelho repressivo de estado?

Num primeiro momento podemos observar que, se existe um Aparelho (repressivo) de Estado existe uma pluralidade de Aparelhos ideológicos de Estado. Supondo que ela exista, a unidade que constitui esta pluralidade de AIE num corpo único não é imediatamente visível. Num segundo momento, podemos constatar que enquanto o aparelho (repressivo) de Estado, unificado, pertence inteiramente ao domínio publico, a maioria dos Aparelhos ideológicos de Estado (na sua dispersão aparente) releva pelo contrário do domínio privado. (ALTHUSSER, 2007:45)

Os aparelhos ideológicos de estado diferem do aparelho repressivo de estado uma vez que não se ligam somente ao setor publico como também tem ligação direta com o setor privado que mesmo não sendo publico está repleto da ideologia social vigente; logo, reforçam a ideologia do Estado.
Para Althusser existem em toda sociedade os seguintes aparelhos ideológicos de estado: O AIE religioso (representado pelo sistema das diferentes igrejas); o AIE escolar (representado pelo sistema das diferentes escolas publicas e particulares); o AIE familiar; o AIE jurídico; o AIE politico (representado pelo sistema politico de que fazem parte os diferentes partidos); o AIE sindical; o AIE da informação (imprensa, rádio, televisão, entre outros) e o AIE cultural.
Contudo, a minha pretensão não é fazer a análise de cada aparelho ideológico citado, antes a principal função desses escritos é dissertar sobre a função do aparelho ideológico escolar de estado e de como este tem exercido uma forte influência sobre o destino dos brasileiros que, ao longo dos tempos, veem na educação a única chance de ascensão de classe. Mas, até onde a ideologia presente nesse setor da vida social realmente favorece e em que ponto acaba culpando muitas pessoas por um fracasso que deveria ser cuidado pelo Estado para que não mais acontecesse?
Mas essa parte fica para o próximo texto, onde dissertarei sobre  a Escola Capitalista, apontando suas características principais e impactos na educação.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O Que Não Se Pode Mudar

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente, não aceites o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar".

Li alguns textos de Bertolt Brecht há muito tempo atrás, quando tinha exatamente 20 anos e procurava inspiração para escrever algo que pudesse ser grande o suficiente para ser inesquecível para mim, tanto que quando iniciei meu mestrado não tive duvida, o trecho acima seria a epigrafe do meu trabalho.
E porque esse trecho em especial? Ele porque ao ler esses escritos eu não me transportei há um passado onde eu não passava de uma criança, uma menina bonitinha e distraída que não se dava muito bem na escola. Era muito inquieta, tinha o sonho de ler todos os livros do mundo, mas em verdade não conseguia nem junta-las, fazer com que elas dessem as mãos para que pudessem formar palavras, ou seja, fui mais uma das tantas crianças moradoras de periferia que fracassou de alguma maneira na escola.
Posso dizer por conhecimento de caso como dói ser apontada como inferior, essa sempre é uma das horas em que você para e pensa: O que devo fazer agora? As escolhas sempre foram apenas duas, ou eu me entrego a um futuro já traçado, ou me transformo em uma pessoa subversiva, que enfrenta o status quo e diz para si mesmo com orgulho: - Quem escolhe o que vai acontecer sou eu.
Foi assim que escolhi por tema de estudo fazer a seguinte pergunta: Qual é o local da criança pobre dentro da escola publica? Seria essa escola realmente democrática?
Era com pesar que, a cada nova pesquisa sobre o perfil do aluno pobre eu me chocava, pois desde a época em que começaram a pensar a abrir a escola para todos as viram como um problema a ser solucionada, nunca com um potencial a ser alcançado se bem trabalhado. Ao longo da historia o que se vê com clareza é o preconceito sempre culpando o local de moradia, a má alimentação, a família, a situação financeira. Nunca culparam a si mesmos por terem apenas se apropriado de metodologias nunca de fato criando um real método educacional que desse conta de solucionar o problema do fracasso escolar das crianças pobres.
Mesmo diante de um panorama devastador, tudo o que eu queria provar era que nada é impossível de se mudar, e meus primeiros passos como pesquisadora foram apontar o problema e trazer a reflexão sobre como "de fato" podemos alterar esse panorama de preconceito e estigmatização, fazendo com que fiquemos próximos a criação de um jeito de se fazer educação com a cara do Brasil, não um Frankstein de metodologias francesas, americanas, portuguesas, pois creio que só assim conseguiríamos mudar a cara e a realidade das nossas crianças carentes junto a escola.
Com minhas pesquisas iniciais comecei a esboçar um pensar para além do que temos, pretendo futuramente, em estudos posteriores , mais avançados e elaborados começar a apontar soluções para esse problema, mas por hora vou postando por esse espaço trechos com meus temas de estudos, que compuseram os capítulos da minha dissertação de mestrado, tentando chamar pessoas para mostrar o quanto é possível mudar, pois derrota só existe para aqueles que acreditam que não podem mudar nada, para os sonhadores de espirito e exatos de ação, tudo pode ser alterado, até a realidade mais dolorida pode e deve ser mudada.
Convido a quem queira dar uma espiada nos meus pensamentos, deixando a seguinte reflexão: tudo pode e deve mudar, pois a essa habilidade damos o nome de evolução.


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Ano do Zé Ninguém

Fonte de imagem:Blog Poiesis &Aisthesis

 Obs: através dos hiperlinks podem ser encontrados o livro em PDF e informações sobre o autor
 
Esse ano foi um ano atípico no nosso país, lutamos por causas vazias, e fechamos os olhos para tantas outras lutas legitimas. Nas redes sociais cresce cada vez mais a legitimação da intolerância e ódio expostas como apenas "opinião pessoal". Cada vez mais as pessoas tendem a expor sua vida como se vivêssemos em pequenos realitys shows que nos punem se não publicarmos o que sentimos, o que comemos, os nossos corpos, nossas tristezas e alegrias. Banalizamos e esquecemos do significado de publico e privado como se um e outro não fossem diferentes para nós.
Com base nessa analise me lembrei de um livro muito bom que li no ano de 2005, quando então eu entrava pela primeira vez em uma universidade, foi um livro que me marcou e releio de tempos em tempos quando o espaço a volta parece tão perturbador como o atual. Leio para me lembrar quem eu sou e o futuro que eu quero ter, leio para reconstruir e aceitar conceitos que são próprios a minha pessoa e que, nem por isso, devem ser questionado.
O livro em questão chama-se: Escute, Zé-ninguém, de Wilhelm Reich  que inicia com a seguinte reflexão:
"Chamam-te Zé-ninguém. "Homem Comum" e, ao que dizem, começou a tua era, a "Era do homem Comum". Mas não és tu que o dizes, Zé-niguém, são eles, os vice presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filosófos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que te digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu Zé ninguém, começastes a penetrar o governo da Terra. O futuro da raa humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém nem os teus mestres nem teus senhores te dizem como realmente pensar e és, ser inabalável senhor dos teus destinos. És "livre" apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a atua vida como te aprouvesse,a cima da autocritica.
Nunca te ouvi queixar: "vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço".

Dentre muitas reflexões que o texto levanta, a mais marcante talvez seja a que nos fala de como não sabemos lidar com a nossa liberdade e de como, por vezes, fingimos entender ideias, quando em verdade distorcemos o seu sentido de forma a nos perder.
Talvez o mais gritante de se aceitar é a verdade de que nós, e mais ninguém, somos responsáveis pelas escolhas que fazemos ao longo da vida. Porque essa constatação nos torna coniventes com tantas barbáries que preferimos esquecer de tudo e admitir a nossa neutralidade. Temos a necessidade de sempre nos apoiarmos em representantes pois assim sempre podemos culpar o presidente, os políticos, nossos lideres e chefes pelas mazelas que escolhemos.

Leitura mais do que obrigatória para quem aceita o desafio de se desconstruir, para quem aceita se olhar no espelho para enxergar suas imperfeições e para todos aqueles que ousam ter a esperança de passar do status de Zé-ninguém para Alguém, pois ao final esse é o trabalho do autor, nos mostrar que por mais difícil que pareça sempre há a possibilidade de mudar  de evoluir rumo ao melhor em nós, aceitando o risco da nossa completa liberdade.





sábado, 15 de agosto de 2015

Conflitos de Identidade

Acervo: google imagens

OBS:Todos os hiperlinks levam a páginas  que explicam mais sobre o tema destacado, bem como podem baixar o livro pelo link disponibilizado

Gosto muito de livros que contam um pouco da história de nosso povo, sempre tão alegre e hospitaleiro... Bem, nem sempre tão hospitaleiro assim. 
Como pode ser observado na Biografia de Fernando Morais, Corações Sujos, que conta um pouco de como os colonos japoneses foram recebidos aqui no Brasil, além de nos mostrar a reação que a colônia japonesa teve ao saber da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Entre serem tratados como animais recebendo para viver as piores casas, serem obrigados a trabalhar em oficios duros em prol do desenvolvimento agrícola do nosso país, tiveram sua cultura renegada e foram forçados a se abrasileirarem para se adaptarem ao sua nova realidade.
Mesmo assim os japoneses continuavam a seguir suas vidas da melhor forma possível, e mesmo quando foi decretado o fechamento das escolas japonesas, e a proibição do ensino de sua língua e cultura para os japoneses nascidos em solo brasileiro, eles continuaram mantendo firme sua esperança de que a vida iria melhor com o final da guerra.
A maioria dos japoneses mantinha em si a esperança de voltar a pertencer a sua pátria depois do final da guerra, com a vitoria do Japão e a grande expansão nipônica nas terras conquistadas. Por isso mesmo, não é de se espantar que, ao saberem da derrota, muitos entraram em depressão, choraram, e a grande maioria simplesmente não acreditava que o imbatível exercito imperial japoneses fora derrotado. 
Da grande parcela de japoneses que não acreditavam na derrota do Japão e tomavam as ultimas noticiais como campanha americana e terrorista, surgiu s Shindô Remmei, ou Liga do Caminho dos Súditos, que tinham como principal função executar todos os japoneses de corações sujos que acreditavam na derrota da nação japonesa.
Um livro de leitura fascinante, que te faz viajar entre revolta e admiração, preconceito e vergonha da nossa própria nação. De leitura obrigatória a todos que acreditam que conhecer o nosso passado é o ponto de partida para entender o nosso futuro e não cometer os mesmo erros.

" Lave sua garganta, pois seu coração está Sujo". (MORAIS, Fernando, Corações Sujos)