terça-feira, 7 de abril de 2015

Conversas com Bourdie - Sobre como me tornei mestre

Há exatos dois anos atrás, no dia 02/04, recebia meu titulo de mestre em educação, aprovada com louvor e indicação para publicação e continuação dos estudos...
Ao ouvir a aprovação um flash de pensamentos seguindo uma longa jornada até ali, contudo apenas um pensamento em mente que nunca me abandonou, a fala do meu orientador em uma de nossas conversas que dizia:
- As vezes fico imaginando a cara do Bourdieu se estivesse aqui ao nosso lado, vendo uma mulher, negra, moradora de periferia falar com tanto propriedade sobre suas teorias. Acho que ele ficaria no minimo surpreso com isso.
Pois é, tive um percurso tão grande pra chegar até aqui que me orgulho do meu caminho. Mérito? Não, apenas a teimosia de quem faz dos obstáculos alavanca em direção a sonhos cada vez maiores.
Mesmo assim, hoje me pego lembrando dessa fala e me imagino em frente ao grande Bourdieu dizendo :
- Sabe aquela sua teoria do capital cultural? Temos que rever ela, pois já se tornou ultrapassada. Muito se fala hoje em dia de saber como poder e mesmo assim, as barreiras de classe permanecem dificultando o caminho mesmo daqueles que insistem em ir para além das expectativas de sua classe. Moro em um país que tem como uma das principais bandeiras de luta a educação de qualidade, mas no final das contas, paga mal seus professores que tem que, a todo o tempo, melhorar a qualidade da sua formação, sempre se atualizando, para enfrentar salas superlotas, mal estruturadas e alunos cada vez mais carentes, porque desde que o oficio professor foi renomeado de educador, as famílias se esqueceram de criar seus filhos, e a sociedade nos pressiona, tentando com que formemos mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, mas no final das contas, ninguém se responsabiliza pela educação que vai ficando cada vez mais dificil para a maioria do povo que aprende a seguir normas e nunca pensar criticamente sobre nada.
A informação, meu caro Bourdieu é tão fragmentada e em quantidade tão absurda que todo mundo sabe um pouco de tudo, mas na verdade não se aprofundam em nada. Senso critico? Muitos criticos, mas sem senso algum,  A fragmentação do conhecimento que nos bombardeia nos rouba a paixão pelo saber complexo e cuidadoso de quem realmente busca sabedoria e não apenas representação.
E neste ponto é que questiono a sua teoria meu caro amigo, acumulo de capital cultural não tem sido visto como uma boa qualidade, pois não importa o quão bem formado você seja, se escolheu ser educador vai sofrer um tanto na construção de sua carreira, pois os centros de educação se tornaram empresas, professores se tornaram corretores em uma imensa bolsa de valores, onde um investimento errado pode significar demissão, Logo, professores que deveriam ser considerados os profissionais socialmente mais importantes são os mais desvalorizados dentre os profissionais com formação superior.

Por um minuto paro meu dialogo imaginário e começo a lembrar do meu status atual: Desempregada.
Deveria ter feito apenas uma pós...
Mas eu nunca vou me arrepender das escolhas que eu fiz, faria novamente quantas vezes fossem necessárias, pois ainda existem pessoas que buscam por conhecimento acima de títulos, Porque no fim posso não ser a profissional mais bem paga, contudo sempre serei o melhor que eu puder ser, buscando sempre por mais, afinal experientes não são os livros, mas sim a sabedoria de quem os escreve. 
A minha classe pode me trazer barreiras, mas minha vontade de crescimento sempre vai me levar para além, onde eu possa representar todos aqueles que fazem parte de quem eu sou e nunca tiveram a oportunidade de ir para além do que esperavam deles, por isso que digo, a estrada pode ser árdua, mas a luta é intensa e verdadeira demais para desanimar.
Você pode ter errado em alguns aspectos, meu caro amigo Bourdieu, mas sou muito mais do que um dia alguém pode imaginar que eu seria e isso que quero para todos aqueles a quem eu possa ensinar alguma coisa ao longo da minha vida profissional.