quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Ano do Zé Ninguém

Fonte de imagem:Blog Poiesis &Aisthesis

 Obs: através dos hiperlinks podem ser encontrados o livro em PDF e informações sobre o autor
 
Esse ano foi um ano atípico no nosso país, lutamos por causas vazias, e fechamos os olhos para tantas outras lutas legitimas. Nas redes sociais cresce cada vez mais a legitimação da intolerância e ódio expostas como apenas "opinião pessoal". Cada vez mais as pessoas tendem a expor sua vida como se vivêssemos em pequenos realitys shows que nos punem se não publicarmos o que sentimos, o que comemos, os nossos corpos, nossas tristezas e alegrias. Banalizamos e esquecemos do significado de publico e privado como se um e outro não fossem diferentes para nós.
Com base nessa analise me lembrei de um livro muito bom que li no ano de 2005, quando então eu entrava pela primeira vez em uma universidade, foi um livro que me marcou e releio de tempos em tempos quando o espaço a volta parece tão perturbador como o atual. Leio para me lembrar quem eu sou e o futuro que eu quero ter, leio para reconstruir e aceitar conceitos que são próprios a minha pessoa e que, nem por isso, devem ser questionado.
O livro em questão chama-se: Escute, Zé-ninguém, de Wilhelm Reich  que inicia com a seguinte reflexão:
"Chamam-te Zé-ninguém. "Homem Comum" e, ao que dizem, começou a tua era, a "Era do homem Comum". Mas não és tu que o dizes, Zé-niguém, são eles, os vice presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filosófos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que te digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu Zé ninguém, começastes a penetrar o governo da Terra. O futuro da raa humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém nem os teus mestres nem teus senhores te dizem como realmente pensar e és, ser inabalável senhor dos teus destinos. És "livre" apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a atua vida como te aprouvesse,a cima da autocritica.
Nunca te ouvi queixar: "vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço".

Dentre muitas reflexões que o texto levanta, a mais marcante talvez seja a que nos fala de como não sabemos lidar com a nossa liberdade e de como, por vezes, fingimos entender ideias, quando em verdade distorcemos o seu sentido de forma a nos perder.
Talvez o mais gritante de se aceitar é a verdade de que nós, e mais ninguém, somos responsáveis pelas escolhas que fazemos ao longo da vida. Porque essa constatação nos torna coniventes com tantas barbáries que preferimos esquecer de tudo e admitir a nossa neutralidade. Temos a necessidade de sempre nos apoiarmos em representantes pois assim sempre podemos culpar o presidente, os políticos, nossos lideres e chefes pelas mazelas que escolhemos.

Leitura mais do que obrigatória para quem aceita o desafio de se desconstruir, para quem aceita se olhar no espelho para enxergar suas imperfeições e para todos aqueles que ousam ter a esperança de passar do status de Zé-ninguém para Alguém, pois ao final esse é o trabalho do autor, nos mostrar que por mais difícil que pareça sempre há a possibilidade de mudar  de evoluir rumo ao melhor em nós, aceitando o risco da nossa completa liberdade.