Outro dia, ao conversar com um amigo falando sobre meu pouco tempo para escrever devido aos congressos que tenho de participar este semestre ele brincou comigo me questionando:
- Afinal de contas, você faz o que, medicina?
Ri da piada do rapaz, mas por outro lado não deixei de me sentir um pouco incomodada com as meias verdades que essa brincadeira trouxe em si, afinal de contas, será que intelectuais só podem ser aqueles indivíduos que não estejam diretamente ligados a área educacional?
No imaginário popular, intelectuais, em geral, sempre foram os médicos, profissionais da área de direito e engenharia. Não nego que há muito tempo atrás, professores já foram considerados como sendo profissionais altamente qualificados e intelectualizados, contudo, isso ocorria numa época onde o que predominavam eram os preceptores e a educação era unica e exclusivamente para elite. Quando a escola começou a se abrir para o povo, seu status foi se degradando, as elites foram migrando para instituições particulares e a profissão de professor foi sendo gradualmente desvalorizada. Por isso, que um professor participar de tantos eventos científicos parece um tanto estranho.
Contudo não seria essa a saída para se obter uma educação e até mesmo valorização profissional, o professor se intelectualizar?
Atualmente, no meio acadêmico, muito se fala sobre o professor pesquisador, sobre programas de "reciclagem" nas redes, mas o grande problema é que o professor, em geral, não se vê como um intelectual e quando muito segue os manuais e apostilas que caem em suas mãos.
Dai ficamos vivendo em meio a esses dilemas de como ensinar crianças o gosto pela leitura se muitos professores não aguentam ler um livro inteiro? Como ensinar sobre matérias sobre as quais não temos domínio? Apesar da fala sobre o professor pesquisador agradar muito e não sair da boca de muitos docentes, a sua prática esta longe de ser verdadeira, pois no inicio de carreira até temos a noção de que teremos que estudar durante a vida inteira, contudo, com o passar do tempo e a influência dos colegas de trabalho, acabamos seguindo fórmulas, pré-elaboradas que tornam nossas aulas muito instrumentais e pouco reflexivas.
Como educadora, pesquisadora e intelectual, gosto de dividir o pouco que sei com os demais, não somente colegas de profissão como com os interessados pelo tema Educação, assim, faço dos meus conhecimentos acadêmicos algo mais útil do que simplesmente publicações restritas a acadêmia. Participo de muitos eventos? Sim, e faço isso com prazer, para conhecer novos temas, pessoas, dividir experiências e conceitos, mas não me tornar puramente conceitual. E nas horas vagas sempre me sobra tempo para estudos sobre politica, literatura, musica, história, poesia, porque, ao contrário do que muitos pensam, educação também é uma ciência e como tal exige profissionais capazes de ir além do que esperam deles. profissionais que saibam que sua função não é fazer as pessoas Aprenderem a Aprender, porque aprender é algo inerente a raça humana, antes nosso trabalho é fazer com que essa aprendizagem seja profunda, para que, futuramente, a educação alcance níveis elevados porque não apenas ensinamos, antes instigamos o pensar, exercício que deve ser praticado por toda nossa vida acadêmica e pessoal.
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