Fonte: Blog Café e Ressaca
Profª Ma. em Educação Leticia Brito
(Alguém sem notório saber, mas com muita dedicação aos estudos de leis educacionais)
(Alguém sem notório saber, mas com muita dedicação aos estudos de leis educacionais)
OBS: Ao longo do texto podem ser encontrados hiperlinks que direcionam o leitor para pequenos textos, vídeos e livros que tratam sobre os termos apresentados.
Outro dia vieram me perguntar porque tanto descontentamento pela retirada dessas matérias da grade curricular do Ensino Médio afinal, hoje em dia a área de conhecimento que mais cresce são as ligadas a tecnologias e ciências exatas, não as humanidades, logo não é normal que essas disciplinas não sejam prioridades educacionais?
Bom, para responder corretamente a essa pergunta os convido a uma viagem no tempo, voltemos ao tempo para analisar a figura do Homo Sapiens e responder a seguinte questão: O que nos separa dos demais animais existentes no nosso planeta? Nossa capacidade de raciocínio. De fato, nossa capacidade de raciocinar, de observar o mundo tentando compreender o que nos parecia estranho, nossa habilidade de criar elementos que facilitavam a vida e mesmo o desenvolvimento de técnicas de plantio e a criação de comunidades primitivas, ao invés de continuarmos como nômades, nos conferiu sempre status de raça superior localizada no topo da cadeia alimentar.
Contudo, voltemos ao passado e me respondam a seguinte questão: Qual foi a primeira expressão que fez com que o homem primitivo caminha-se rumo ao seu desenvolvimento intelectual, ou melhor dizendo, qual foi a primeira preocupação deste homem? A resposta certa é a necessidade de transmitir seus conhecimentos, mas como se comunicar quando a fala ainda não existia? Por meio da arte.
A arte rupestre (arte primitiva), logo não é exagero algum dizer que a arte é o que nos difere dos demais animais e que nos categoriza como humanos. Se levarmos em conta que as pinturas nas cavernas antecederam o desenvolvimento da fala e até mesmo invenção dos primeiros alfabetos, não há sentido em pensar em currículo escolar que não possua preocupação no ensino das artes para o pleno desenvolvimento intelectual do ser humano.
Uma característica marcante na nossa espécie é a busca por conhecimento, sendo assim, com o passar do tempo e a evolução da humanidade o homem que atribuía a Deuses todos os acontecimentos naturais que não sabia explicar, começou a perceber que alguns fenômenos como as estações, dia e noite, entre outros, sempre se repetiam, sendo assim o homem moderno começou a sua busca por respostas sobre a vida o universo e tudo mais. Surgia assim a Filosofia e com ela muitas conquistas e desenvolvimento de um pensar critico, foram os filósofos antigos que inventaram conceitos que são transmitidos até hoje como astronomia, cálculos, leis, a politica, até mesmo a noção que temos do que seria democracia foi retirada da filosofia, logo não podemos tomar a filosofia por uma matéria menos importante, visto que todas as áreas do conhecimento tiveram como origem essa "disciplina inferior".
Com o desenvolvimento de sociedades complexas, surge a necessidade de tentar entender como o funcionamento da mesma pode influenciar nossas vidas, surgia assim a Sociologia que procurava estudar a sociedade com os mesmos critérios científicos das demais áreas do conhecimento.
Toda vez que pensamos em sociologia devemos ter a clareza de saber que o homem que não consegue analisar o meio em que vive com critério cientifico, está fadado ao retrocesso. Imaginar que uma pessoa possa se desenvolver de forma critica para ser "útil a sociedade" sem ao menos compreender qual é o seu papel dentro dá mesma é o mesmo que imaginar alguém aceitando uma vaga de trabalho sem a exigência de um salário.
Tendo feito essas considerações cabe colocar a seguinte questão: Por que retirar Artes, Filosofia e Sociologia da grade curricular do ensino médio, ministrando apenas conceitos da mesma no primeiro ano do ensino médio e depois apenas se o aluno demonstrar interesse em estudar as humanidades?
De fato, o conceito do que seria ideologia surgiu dentro dos estudos da sociedade, contudo o que cabe a mim, como estudiosa de politicas educacionais é o seguinte alerta: Não há currículo sem ideologia uma vez que a finalidade deste é preparar o homem ideal para o tipo de sociedade atual.
A pergunta que cabe aqui sempre será uma apenas, que tipo de homem a Reforma do Ensino Médio procura preparar para a sociedade? Estariamos fadados ao retrocesso de uma multidão de especialistas em um único grão de areia?
Que possamos viver em meio ao lindo e ideológico mundo perfeito, sem barreiras, interativo e globalizado e não que façamos com que os nossos jovens que a muito já estão confusos pelo excesso de informações que nunca se aprofundam, ao retrocesso do homem de Chapplin no seu celebre filme Tempos Modernos.