sexta-feira, 27 de abril de 2012

Remendo Histórico




E assim a sonhada liberdade foi decretada, não conquistada. Os negros abandonavam as fazendas com a esperança de nunca mais sofrer com a intolerância dos seus senhores e assim poderem construir um futuro melhor para seus filhos, afinal, era a primeira vez que eles podiam pensar no futuro que viria.
Contudo, uma vez libertos era com se não mais existissem, nas fazendas foram substituídos por imigrantes italianos. Sem ter onde morar, sem direito a educação ou mesmo direito ao trabalho remunerado, acabaram por continuar escravos, mas agora era como se fossem escravos de si mesmos. Assim foram surgindo as favelas, os vendedores ambulante e a persistência da descriminação ao longo dos tempos que acabou gerando muitos dos problemas sociais que hoje enfrentamos.

Mas porque voltar na história e falar novamente sobre esse assunto? Qual a atual relevância desse tema?
Ontem com a aprovação  unanime da constitucionalidade das cotas raciais para o ingresso nas universidades publicas e estaduais todos nós brasileiros participamos de mais uma grande conquista para o nosso país rumo ao combate ao racismo.
Sei que muitos não aprovavam ou mesmo conseguem ver nessa medida um avanço, antes consideram ela como um retrocesso, uma vez que o julgamento deu muito enfoque a questão do negro deixando outras minorias de fora da discussão. Mesmo assim a vejo como uma boa medida, alias, a unica medida de educação compensatória que considero bem sucedida, uma vez que desde que as cotas foram oferecidas, elas tem sido eficientes e hoje o numero de negros que cursam o ensino superior aumentou consideravelmente. Agora temos que esperar as discussões não apenas referentes aos povos oprimidos da nossa terra como os índios e os negros, índios esses que também foram contemplados pelas cotas, afinal, sempre foram os negros dessa nossa terra. O segundo passo agora será a discussão em favor dos estudantes vindos das escolas publicas e os jovens de baixa renda, e espero ansiosa que venha mais uma vitoria em nosso horizonte, afinal de contas, aos poucos o Brasil está mudando, é certo que muito ainda precisa mudar, mas o fato é que enxergar as mudanças nos faz retomar a vontade de lutar por um país melhor que, mesmo que não seja para mim, mas que para o meu filho será um bom lugar para se viver futuramente.

Aos filhos daqueles que plantaram sem nada colher a herança tardia que agora se anuncia.



quarta-feira, 28 de março de 2012

Covardia Sentimental


Acredito que falar sobre educação é discursar sobre os conflitos da vida humana, por isso, falarei sobre um tema dificil nessa área: os sentimentos
Quantas não foram as lutas para que nas nossas relações intimas pudessemos ter mais liberdade e poder de escolha? Antigamente mulheres eram vistas como moeda de troca, eram ensinadas que amor se aprende a sentir com o tempo, mesmo que sua família tenha escolhido o ser mais repugnante para ser o seu parceiro você deveria aceita-lo, nunca questionar seus atos e, por fim, ser sua doce esposa.
Graças a luta de muitas mulheres de coragem conquistamos toda a liberdade que temos atualmente, fazemos parte do mercado de trabalho, nossa escolaridade aumentou e muito, temos liberdade sexual para escolher o parceiro que quisermos e mesmo para simplesmente fazermos sexo casual. Contudo o que estamos fazendo com a liberdade adquirida ao longo de todos esses anos de lutas de mulheres realmente fortes quando o assunto são nossos sentimentos ?
Me incomoda ver exemplos de meninas novas que acham que qualquer coisa que fale de sentimento é algo infantil, como se desejar carinho ou ser amada fosse algo muito errado. Declarar amor verdade hoje em dia é a nossa kriptonita, e quem quer ser fraco, não é mesmo.
Parece que, confusas, estamos utilizando toda nossa liberdade sexual para ser tão ignorantes como alguns homens machistas que nos tratavam como pedaços de carne. Sim, temos mania de falar que os homens são todos iguais, mas não conseguimos fazer a diferença na vida de nenhum deles. Com essa afirmação não estou demostrando ser uma mulher machista, ao contrário, sou feminista, marxista, mas nunca serei extremista  e sim, acho que no mundo falta muito carinho, amor e demostrações de afeto. Afinal de contas, se só dermos valor ao coito, a uma boa pegada, o que vai nos separar dos demais animais?
Sim, por mais que tentemos negar nossa natureza animal, ela tem crescido cada vez mais dentro de nós, não só de mulheres, como dos homens também, sinto-me, por vezes, vivendo dentro do Admirável Mundo Novo, onde fazemos sexo apenas por prazer e somos viciados em soma, fazendo com que o mundo seja sempre movimentado, produtivo, mas vazio de sentimentos.
Temos que reaprender a sentir, reinventar e dar novo sentido as nossas relações que podem ser abertas, fechadas, ter a denominação que quisermos, contanto que não nos esqueçamos que demonstrar sentimentos não é fraqueza, antes é a lembrança do quão humanos somos e de como precisamos do outro para evoluir em nossa vida.
Dificil encontrar uma pessoa que nunca tenha vivido uma dura experiência no campo dos sentimentos que acaba deixando a pessoa com medo de novas relações, contudo, viver sobre a ótica do medo é não aceitar uma grande verdade proclamada pelo grande filósofo Satre: Nós somos condenados a ser livres. Portanto temos a liberdade para fazermos o que bem entender, contudo, quando as coisas derem errado não  é correto culpar o outro por isso, uma vez que em toda relação que não dá certo não existe um unico culpado, existe um conjunto de fatores que nos levam ao fim. Escolher passar por isso também é uma escolha individual, e permanecer com medo também.
Por isso digo, ainda sonho com o dia em que nós mulheres e homens saberemos usar a liberdade que temos dando espaço aos sentimentos para que não nos tornemos por um todo animais, que não sentem, apenas copulam por instinto.
Pensem nisso antes de começarem uma guerra entre os sexos.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Toda Criança é Especial


LINK FILME INTEIRO LEGENDADO: Taare Zameen Par - Toda Criança é Especial

A minha amiga e educadora Sarah Helena

O termo criança especial, atualmente utilizado como referencia a portadores de deficiência física e mental, pode ser utilizado de maneira mais ampla se levarmos em consideração que todas as crianças são, de fato, especiais, afinal todo o individuo é dotado de certas características que os fazem ser todos diferentes no seu modo de ver ser, aprender e conviver com as pessoas. Por que então dentro da escola, tratamos nossas crianças de modo homogêneo, sendo que todas são diferentes umas das outras?
Ao assistir indiano intitulado, Toda Criança é Especial, recomendado por amigos educadores no Facebook, decidi fazer esse post  e falar um pouco sobre as minhas impressões sobre o filme, que julgo ser um filme tão expressivo que deveria ser assistido por todos os que trabalham com educação.
O Filme conta a história do garoto Ishan, que rotulado por suas professoras como indisciplinado e incapaz de obter qualquer avanço significativo no seu aprendizado, se vê envolvido em meio a um dilema familiar, onde sua família tenta fazer o "melhor" para que ele não seja considerado uma criança deficiente. Para piorar a vida do garoto, ele é o tempo inteiro comparado ao seu irmão, que bem sucedido nos estudos, possui o perfil de campeão que todos os pais almejam a seus filhos.
Aqui cabe fazer a primeira reflexão sobre o filme, o que os pais esperam para o futuro de seus filhos? Dificilmente uma família quando cria uma criança gostaria de imaginar um futuro de dificuldades, em geral, o ideal de filho seria o do filho perfeito, aquele que só trás orgulho e honra para casa. Logo, se a criança apresenta algumas dificuldades as famílias entram em conflito compostos de etapas semelhantes a descoberta de uma deficiência grave: Negação, luto e aceitação.
No caso do garoto do filme, a diretora da escola, diante do péssimo desempenho escolar do menino sugere que ele possa sofrer de alguma deficiência mental grave, os pais do garoto, com sentimento de ofensa, resolve matricular o garoto num colégio interno, pois acham que tudo o que o garoto precisa é de disciplina mais rigorosa. Infelizmente a medida acaba prejudicando mais do que ajudando o garoto que, na verdade sofre de dislexia, diagnosticada por um professor substituto de artes que se interessa em saber porque um de seus alunos é tão quieto.
A dislexia que pode ser encarada como uma doença mental não é nada alem, como relatado no blog citado, é um jeito diferente de se aprender, que reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes brilhante, até mesmo genial, mas que aprende de maneira diferente.
Nossos rostos diferentes e únicos já poderiam servir de pista a um simples verdade: nós, seres humanos, não aprendemos todos da mesma forma, e mesmo as pessoas consideradas muito inteligentes não conseguem ser boas em todas as áreas do conhecimento, porque julgar então que uma mesma maneira de conta de educar todas as crianças dentro da escola? 
Existe uma teoria chamada de Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner que, resumidamente, nos sugere que cada pessoa possui habilidades voltadas para campos específicos do conhecimento, campo esse que deve merecer maior atenção no desenvolvimento das habilidades da pessoa. No caso do garotoa Ishan, ele possuía inteligência acima da média, e seu campo de maior concentração era o das artes, pois conseguia se expressar perfeitamente através de suas pinturas que eram ricas em detalhes. 
Essa é uma das primeiras teorias que deveriam ser ensinadas nos cursos de formação docente por mostrar uma abordagem diferente sobre o significado que seria inteligencia, contudo, na maioria das vezes ele é apenas citado e cabe aos alunos, caso lhes interesse, pesquisar mais profundamente sobre a teoria. Creio que por isso, e pelas facilidades de se homogenizar as pessoas, é que ainda continuamos tratando nossos alunos como se eles fossem todos iguais, como se nenhuma criança fosse tão especial.